Poemas e desenhos inspirados nas sementes do Cerrado são tema de publicação.
A Associação Cerrado de Pé acaba de lançar a publicação: Sementes do Cerrado -
Versando e Colorindo, que conta com poemas e desenhos criados por crianças e
adolescentes de famílias de coletores de sementes do quilombo Kalunga. Essas criações
surgiram em oficinas inspiradas no encantamento pelas sementes e pelas sutilezas que
elas mobilizam em cada coletor. A publicação também conta com notas escritas pelas
professoras Josélia e Joverci, que são mulheres quilombolas Kalunga do Vão do Moleque e
fazem parte das famílias de coletores de sementes. As notas apresentam saberes
populares sobre as plantas do Cerrado e seus usos tradicionais no território.
A atividade foi idealizada e coordenada por Bruna Braz, e é uma das ações do projeto
Sementes do Cerrado: Germinando o Futuro de Comunidades Locais, realizado com o
apoio do Instituto Sociedade População e Natureza (ISPN). A oficina de poesia foi
ministrada por Sabiá Canuto, e a desenho por Luana Santa Brígida, que também foi
responsável pelo projeto gráfico da publicação. As atividades também contaram com a
presença de Augusto Niemar, poeta e professor de Literatura da Universidade de Brasília.
A publicação Sementes do Cerrado está disponível de forma impressa e digital. Além disso,
os desenhos e poemas também estamparam camisetas que serão distribuídas para os
coletores de sementes e comercializadas na lojinha da Cerrado de Pé, valorizando ainda
mais as criações dos jovens das comunidades.
“Como criança e artista que somos quando nos permitimos vir a ser, aproveite as páginas
desta publicação para se encantar. A nossa luta precisa ser também afetiva, e é preciso
convocar a ideia do afeto como uma potência de criação de mundo, como diria Ailton
Krenak. O encantamento preenche de sentido o nosso fazer, alimenta os nossos sonhos por
um futuro ancestral e nos dá força para seguirmos resilientes na luta pela
sociobiodiversidade do Cerrado.”
(trecho da publicação Sementes do Cerrado).
CERRADO DE PÉ
(augusto niemar)
Catar sementes
Afagar a terra
Apanhar da Terra
O milagre da plantação
No giro da Terra
Entre vãos e serras
Colher na terra
As sementes do chão
Do milagre da plantação
Colher o alimento
Sentir no vento da Terra
A certeza da criação
No Cerrado de pé
Transformar o tempo
Transformar a vida
E andar eu voo com fé
A coleta de sementes
Nessa vida sementeira
É fazer render frutos
No plantio da vida inteira
Apanhar sementes
No chão Kalunga é
Unir as mãos das gentes
Coletar amor que sente
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