Numa área nativa de cerrado que foi degradado, como sabemos se haverá
recomposição da vegetação? Decidimos intervir nesta área, mas como saber se deu
certo o que fizemos? Bem, essas perguntas nos levam de encontro ao conceito da
Regeneração Natural que condiz na capacidade de autonomia que uma área possui
para a sua revegetação. Ao observar a Regeneração Natural de uma área, poderemos
então identificar sua real capacidade de prosseguir sozinha ou suas necessidades de
intervenção, bem como as respostas das intervenções escolhidas. Porém, não se trata
de qualquer observação, mas de um processo de acompanhamento criterioso que
chamamos Monitoramento. Diante da necessidade de restaurar o cerrado, o
monitoramento é a principal ferramenta.
No Distrito Federal, a então Aliança pelo Cerrado mobilizou diversos parceiros em prol
da atualização da legislação ambiental local. Até 2017 (antes da IN 723/2017) projetos
de implantação por mudas eram exigidos como forma de compensação e era analisada
a mortalidade destes plantios. O resultado histórico deste modelo de restauração do
Cerrado foi justamente o que motivou todos os envolvidos na proposta de mudança.
Passou a valer o resultado na área ao invés do projeto, inspirados na legislação de São
Paulo (SMA Nº32), utilizando indicadores ecológicos através do monitoramento da
vegetação. Para isso, foi publicado o Protocolo de Monitoramento da Recomposição da
Vegetação Nativa no Distrito Federal.
Do que adianta plantar a muda de uma espécie que os pássaros já estão plantando?
Evidente que monitorar a regeneração natural poderá resultar numa economia para o
projeto. Mas para além disso, o monitoramento auxilia na tomada de decisão orientada
na trajetória que a própria área do projeto indica. Desta forma, também permite realizar
o manejo adaptativo do projeto. Do contrário, projetos com “receitas de bolo” podem
deixar a área ainda mais impactadas. Por exemplo, o que acontece quando plantamos
árvores onde naturalmente só tem capim?
O Protocolo de Monitoramento utilizado pelo Ibram-DF orienta para a avaliação de três
indicadores: 1. Cobertura de dossel e do solo; 2. Densidade de regenerantes e 3. Número
de espécies regenerantes. Estes três indicadores são avaliados por métodos de
amostragem na área em questão e têm valores de referência (Nota Técnica Nº1/2018)
que mostram a evolução da regeneração natural até que a restauração seja aprovada.
Este exemplo do Distrito Federal é seguido por outros estados como Mato Grosso e Rio
de Janeiro, com adoção de novas práticas e tecnologias. Este cenário reforça a
oportunidade de diferentes possibilidades de abordagens por produtores ou técnicos
na evolução da restauração de áreas sob ótica da regeneração natural, utilizando do
Monitoramento da vegetação.
Artur Sousa
Especialista em Germoplasma
The Nature Conservancy ‒ TNC
Artur é Eng. Florestal, Mestre em Ciências Florestais,
atualmente trabalha pela Restauração da Amazônia.
Devoto do Cerrado, onde aprendeu a restaurar e a
coletar sementes.
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